domingo, 11 de julho de 2010

Paulo Barros: ‘Eu não tenho medo de arriscar’


Paulo Barros: ‘Eu não tenho medo de arriscar’
POR DIEGO BARRETO

Rio - Depois de surpreender a Sapucaí com um desfile sobre segredos e faturar sua primeira vitória no Grupo Especial, pela Unidos da Tijuca, Paulo Barros agora quer, literalmente, assustar. O carnavalesco vai tentar o bicampeonato com o enredo ‘Esta noite levarei sua alma’, que abordará o medo. Embora afirme odiar filmes de terror, Paulo buscou no gênero a inspiração para o próximo trabalho. Faltando mais de sete meses para a festa, ele revela já estar com a escola toda planejada. A comissão de frente, que este ano foi a grande sensação, deverá causar impacto outra vez. O grupo já está testando a ‘ideia’ de 2011, afastando desde agora o maior medo do próprio Barros: ficar sem trabalhar.

O DIA: No último Carnaval, o enredo da Tijuca foi sugestão de um jovem. Como surgiu a ideia para ‘Esta noite levarei sua alma’?
Paulo Barros: Uma pessoa me perguntou se eu não tinha medo de arriscar. A pergunta ficou na minha cabeça. Fiquei estudando a possibilidade de desenvolver enredo falando do medo. A maneira que encontrei veio com ajuda do cinema.

Você é fã dos filmes de terror? Costuma ir ao cinema para tomar susto?
Eu odeio filmes de terror. Não gosto daquela coisa de sangue jorrando de um lado, cabeças sendo cortadas do outro, motosserra... (risos)

O título e a sinopse do enredo sugerem um desfile com enfoque no medo provocado pelos filmes. O público pode ser surpreendido com outras abordagens?
A sinopse pode até sugerir um enredo só com filmes de horror, mas tem muitas outras coisas ali no texto. Uma leitura mais atenta revela isso. No desfile, as pessoas vão tentar associar as coisas ao medo e vão descobrir que ele é tratado como contraponto para a coragem. O que é medo para uns, para outros é coragem, dependendo do ponto de vista.

Você tem medo de quê? Existe algo que te assuste?
Eu não costumo sentir medo. Algumas pessoas têm medo de altura, do escuro, do mar. Eu não costumo sentir nada isso. Meu maior medo na vida é apenas de não poder trabalhar. Ficar impedido, por qualquer motivo, de fazer o meu trabalho. Sou bastante workaholic (viciado em trabalho).

Então quando você deixou a Viradouro, em 2008, num período em que poderia ficar fora do Carnaval um ano, isso te assustou?
Naquela situação, ficar de fora por um ano seria uma consequência. Mas, obviamente, fiquei preocupado.

Seus desfiles sempre trazem inovações que impressionam pela ousadia. Teve algo que você projetou e depois temeu não funcionar?
O meu trabalho sempre foi baseado no risco. Não tenho medo de arriscar. Sei dos riscos e os estudo. Tudo é muito bem preparado. Por isso, nunca fui para a Avenida com medo de uma ideia não acontecer. O meu medo nunca é de algo não dar certo, mas sim de alguém não cumprir sua parte no combinado. Caso isto aconteça, as coisas podem não funcionar.

O título do enredo faz analogia a um dos filmes do cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão (‘À Meia-Noite Levarei sua Alma’) . Ele estará no desfile?
Fizemos um primeiro contato superficial e agendamos um bate-papo. Devo ir a São Paulo fazer o convite oficial para que ele participe do desfile.

Em outros Carnavais, você já trouxe personagens ligados à temática do terror, como Drácula e Frankenstein. Estes personagens poderão voltar em 2011?
Eles (os personagens) até me ligaram pedindo para desfilar ano que vem. Mas resolvi dar férias para eles no próximo Carnaval (risos).

Os enredos Tijuca e do Salgueiro terão o cinema como pano de fundo. Você teme algum tipo de comparação?
Não, de forma alguma. O veículo — cinema — é o mesmo, porém os enfoques são completamente diferentes. Acabou sendo uma coincidência. Em outras ocasiões, escolas já tiveram enredos com a mesma temática e os desfiles foram totalmente distintos.

Este ano a comissão de frente foi a grande surpresa. Você já idealizou a abertura da escola no desfile de 2011? Será impactante como a deste ano?
Sim, a ideia para a comissão de frente já está em testes. Posso adiantar que desta vez será algo que não depende apenas de pessoas. Além dos componentes, dependemos de mecanismos, técnicas. Estamos testando para ver se é possível.

Que outros efeitos inovadores você pensa trazer no próximo desfile?
Sempre fico cavucando para descobrir coisas que sirvam como diferencial dentro do contexto de cada alegoria. Todo ano procuro tecnologia que seja inédita na Sapucaí.

Geralmente a escola campeã costuma ter um ‘inchaço’ de componentes no desfile seguinte. A Tijuca vai limitar o número em 2011?
Eu até pretendia trazer a escola maior em 2011. Mas, a pedido das direções de Carnaval e Harmonia da escola, adequei o projeto. A Tijuca terá o mesmo tamanho deste ano, com 3.600 componentes, seis alegorias e tripés, só não defini ainda se utilizarei o número máximo (seis). O desfile está todo definido, faltando apenas ajustar alguns detalhes.

A Tijuca será a quarta escola do Domingo de Carnaval. A posição é boa?
É indiferente. Antes, quando eram sete escolas por dia de desfile, me preocupava em não desfilar com o dia claro. Hoje não tem mais isso.

O seu trabalho sempre é muito aguardado pelo público e crítica. Com o campeonato da Tijuca, a expectativa deve ser ainda maior no próximo desfile. Isso te preocupa? A pressão pelo bicampeonato incomoda?
Não estou preocupado com isso. Minha preocupação é executar o projeto e ter uma equipe em que cada um cumpra a sua obrigação. Preciso desse trabalho dedicado e em conjunto da equipe para que tudo funcione na Avenida.

A Unidos da Tijuca assusta as outras escolas?
Não me preocupo com as outras escolas. Não critico o trabalho de fulano porque é moderno ou de beltrano por ser tradicional ou cafona. Não comento. Mesmo assim, parece que sempre tem alguém preocupado com o meu trabalho.

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