domingo, 28 de fevereiro de 2010

Criado no ninho da Beija-Flor


20.02.10 às 02h05 > Atualizado em 20.02.10 às 03h37.

Criado no ninho da Beija-Flor
Pais do carnavalesco Paulo Barros contam que a família toda, de Nilópolis, ‘virou a casaca’ para torcer e acompanhar a carreira do bem-sucedido filho na elite do Carnaval carioca
POR FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Quarta-feira de Cinzas, final de tarde no Centro de Nilópolis. Enquanto toda a vizinhança assistia à apuração de votos pela TV e torcia pela Beija-Flor, o engenheiro aposentado Valdir Braga, 75 anos, e a mulher, Celina Barros Braga, 69, cruzavam os dedos pela Unidos da Tijuca. A razão da ‘virada de casaca’, já que a família sempre foi ligada à Azul e Branca da Baixada Fluminense, está no sangue: eles são pais de Paulo Barros, 47, carnavalesco que conquistou o título deste ano pela agremiação da Zona Norte do Rio. “Meus pais são tietes de carteirinha”, entrega Paulo.
Agência O Dia
“Paulo e nossos outros três filhos (Vera Lúcia, 50, Elizabeth, 48, e Marco Antônio, 45) cresceram no ‘quintal’ da Beija-Flor. Até hoje frequentamos a quadra, mas onde Paulo estiver atuando, nossos corações vão estar com ele”, justifica Valdir. O casal não esconde o orgulho. “Por muito tempo nós e Paulo ficamos engasgados com o grito de campeão, principalmente em 2004, quando a Tijuca perdeu para a Beija-Flor por oito décimos, e em 2005, novamente para a Beija-Flor, por só um décimo”, lembra Celina.

COMEMORAÇÃO EM FAMÍLIA

Só ontem, Valdir e Celina puderam, emocionados, cumprimentar o filho, no barracão da escola na Cidade do Samba. “Paulo mora em Itaipu, Niterói, e nos últimos dias ficou só por conta de entrevistas”, comentou Valdir, que tem desfilado com Celina pelas ruas de Nilópolis usando camisas personalizadas com o enredo ‘É segredo!’, da Unidos da Tijuca.

Além dos pais, as irmãs Elizabeth e Vera e os sobrinho Vitor Hugo e Ìsis foram ao barracão conhecer os bastidores da vitória e observar os reparos nas alegorias da campeã.

Casados há 52 anos, Valdir e Celina entregam ‘segredos’ de infância do mago do Carnaval carioca: o filho se apaixonou pela folia quando era menino. “Ainda pequeno, ele gostava de desenhar e fazer ele próprio suas fantasias. Aos 14 anos, já desfilava pela Beija-Flor. Depois, conheceu Joãosinho Trinta e passou a despontar na confecção de alegorias e figurinos. Sempre demos apoio, pois sabíamos que o Carnaval estava em sua veia”, lembra Celina.


O filho chegou a cursar Arquitetura, mas preferiu ser comissário de bordo. “Depois de 17 anos voando, abandonou a profissão para se dedicar exclusivamente ao Carnaval. No começo, ficamos meio apreensivos, porque a carreira nos ares parecia mesmo promissora. Mas, como ele teria que se mudar para Nova York, concordamos. E não nos arrependemos”, diz Valdir.

De aviador a campeão do Carnaval

Em 1993, depois de Paulo ter sido dono de loja de CDs e sócio de restaurante em Botafogo, foi convidado para fazer os figurinos da escola Vizinha Faladeira e não parou. “A vitória deste ano o consagra como um dos maiores gênios da Sapucaí, embora alguns críticos ainda insistam em contestar suas ideias ousadas e inovadoras”, defende a mãe.

Após passar por outras escolas do Acesso além da Vizinha, como Arranco e Paraíso do Tuiuti, Paulo Barros fez sua estreia no Grupo Especial em 2004, justamente pela Tijuca. Em dois anos, ele mudou a história da agremiação, ajudando-a a conquistar dois vices. Três anos depois, o carnavalesco passou a defender a Viradouro, para, então, voltar a atuar pela Tijuca.

Ontem, Paulo levou a família inteira à festa da vitória na Cidade do Samba. São Clemente e Tijuca comemoraram os títulos do Grupo de Acesso e Especial no Pagode das Campeãs, que recebeu cerca de 500 pessoas. Com portões abertos, a festa teve até chope e churrasquinho de graça. Mestres-salas e porta-bandeiras das escolas se apresentaram.

A emoção do ‘mafioso’ da Tijuca na passarela da paz

Um dos pontos altos do desfile, a performance da bateria da Unidos da Tijuca, vai emocionar duplamente um dos integrantes hoje. O vendedor de roupas Pedro Chagas, 29 anos, era um dos oito ‘mafiosos’ que desfilavam no corredor aberto pelos ritmistas. De sua arma, disparava a palavra ‘paz’, atingindo em cheio o público que se deliciava com a apresentação apoteótica da escola.

Morador do Borel, casa da escola campeã, ele conta os dias para que a paz do Carnaval reine também na sua vizinhança. A comunidade, onde moram 20 mil pessoas, é a próxima a receber uma Unidade de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), com 391 recrutas.

“Ser portador de uma mensagem de paz para o mundo inteiro, ainda por cima sendo morador de um bairro tão carente de segurança pública, é muito gratificante. Quando cheguei em casa depois do desfile, vizinhos e parentes me abraçaram calorosamente”, contou Chagas, caçula de seis irmãos.

O vendedor conta que manteve o segredo de seu personagem, como pedia o enredo da escola: “Nem os outros componentes da ala e a Adriane Galisteu, a rainha da bateria, conheciam quem seriam os personagens”. Segundo Pedro, ela chorou com o truque. “Na dispersão, Galisteu disse: ‘Gente, que surpresa maravilhosa! Vocês quase me mataram do coração com tanta emoção”, relembra Chagas

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