domingo, 28 de fevereiro de 2010

O segredo da caixa preta


19.02.10 às 03h02 > Atualizado em 19.02.10 às 09h41.

O segredo da caixa preta
Trinta pessoas se escondiam atrás da comissão de frente da Tijuca. Três times de bailarinas se revezavam
POR NATALIA VON KORSCH

Rio - A imensa caixa preta que seguia a encantadora comissão de frente da Unidos da Tijuca era um movimentadíssimo — e quente — vestiário. As seis ‘assistentes’ dos mágicos que trocavam de roupa várias vezes num piscar de olhos saíam de um time de 18 mulheres selecionadas e treinadas à exaustão pelo casal Priscila Mota e Rodrigo Negri.

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Priscila e Rodrigo dentro da caixa preta: tripé era um vestiário coberto por cortinas de veludo onde 12 ‘reservas’ esperavam a vez de entrar na Avenida. Mais 18 pessoas foram lá dentro Foto: André Mourão / Agência O DIA.Cada um dos três ‘sextetos’ se apresentou duas vezes ao longo da Avenida. O truque para que ninguém desconfiasse da troca estava na cara. A gigante de cosméticos MAC enviou nove maquiadoras com a missão de deixar as 18 ‘assistentes’ praticamente idênticas.

“Elas estavam irreconhecíveis, iguaizinhas, até hoje eu olho o vídeo e não consigo saber quem é quem. As maquiadoras usaram produtos especiais para afinar os narizes, tornar os olhos e sobrancelhas semelhantes e outros truques para que as peles ficassem do mesmo tom”, disse Priscila.

Dentro da caixa se escondiam 30 pessoas: as 12 ‘assistentes’ no ‘banco de reservas’, quatro figurinistas para auxiliar na troca e preparação das sigilosíssimas roupas e 14 empurradores. Todos só podiam trabalhar dentro do vestiário, de 63 metros quadrados e feito de ferro, madeira e veludo.

Priscila e Rodrigo testaram mais de 40 mulheres — entre dançarinas, atrizes e artistas de musicais — antes de escolher o grupo que deu o show de ilusionismo. “Além do talento, era importante que tivessem mais ou menos a mesma altura e peso”, disse a coreógrafa.

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Há três anos na Tijuca, o casal aproveita as férias do corpo de baile do Teatro Municipal para se dedicar ao Carnaval. Segunda-feira, eles voltam à labuta no teatro, mas por enquanto saboreiam o gostinho do sucesso da comissão nota 50, segundo os jurados que assistiram à performance na Sapucaí.

“É estranho porque todo mundo liga parabenizando, mas logo depois pede pra gente revelar o segredo. Quase ninguém sabe e não pretendemos contar tão cedo. Até o pessoal na rua já reconhece a gente e não consegue segurar a curiosidade”, conta Rodrigo, que segue as ordens do ‘chefe’ Paulo Barros de não entregar o ouro e ‘estragar a magia’: “Nós temos medo de ferir alguma ética dos ilusionistas. Eu até acho que a solução encontrada pela gente não é igual, mas o resultado final é o mesmo”.

Mãe de coreógrafa ajudou a empurrar o ‘vestiário’

Considerados o grande mistério do Carnaval — bem no clima do enredo levado à Avenida pela Tijuca, “É Segredo!” —, os vestidos de malha de liganete usados pela comissão ficaram por pelo menos duas semanas à vista de todos que visitaram o barracão da escola, expostos na sala de reunião. Mas, desde domingo, as peças estão guardadas a sete-chaves em um local a que nem mesmo a dupla de coreógrafos tem acesso.

No dia do desfile, as peças foram levadas para um hotel no Centro, onde os bailarinos ficaram concentrados desde o meio-dia, em quatro quartos. Apenas a maquiagem das meninas levou seis horas para ficar pronta.

As chaves dos quartos, em outro mistério que levou os funcionários do hotel à loucura, sumiram e só apareceram de madrugada. Elas estavam nos bolsos da mãe de Priscila, a aposentada Jussara Mota, uma das 30 pessoas na caixa preta — a maioria voluntários — que ajudaram a organizar e empurrar o tripé pela Avenida: “Estava um calor de mais de 50 graus lá dentro e nem conseguimos ver a apresentação, já que não tinha um buraquinho sequer. Mas sabíamos que tinha dado tudo certo quando ouvimos as palmas na arquibancada”.

Mágica da comissão de frente custou R$ 200 mil

Levar a comissão de frente mais inventiva de todos os tempos à Avenida custou caro: cerca de R$ 200 mil e muito tempo. Foram três meses desde que Paulo Barros teve a ideia, assistindo a um vídeo na Internet, até descobrir como colocá-la em prática. Outros quatro meses foram necessários para fazer o protótipo do vestido ‘muitas faces’, com tecidos e cores testados exaustivamente até se chegar ao modelo que encantou o público no Sambódromo.

Os ensaios, que só foram realizados com a fantasia cerca de um mês antes do desfile, começavam por volta das 5h na Cidade do Samba ou na Sapucaí, desde que não houvesse ninguém assistindo além do pessoal autorizado pela Tijuca. Até o papel prata picado que encerrava o número e levantou as arquibancadas foi cortado e testado pelos próprios coreógrafos, que gastaram 80kg do material durante a apresentação, 36 dos 52 sacos disponíveis.

De tecido, mais de mil metros foram gastos, com os vestidos e os seis panos vermelhos de 5 metros que faziam parte da apresentação. Tudo foi comprado e confeccionado a mais para o caso de algo dar errado ou se a chuva surgisse para atrapalhar o desfile. Como tudo saiu bem, o material será usado amanhã.

fonte o dia na folia

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