sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Artigo: Vitória põe Unidos da Tijuca no centro do Carnaval

19.02.10 às 10h13
Artigo: Vitória põe Unidos da Tijuca no centro do Carnaval
A vitória da Unidos da Tijuca é histórica menos por romper o longo jejum de títulos da escola do que por marcar, 34 anos depois da Beija-Flor, a consagração de um novo estilo de fazer carnaval. Faz seis anos que Paulo Barros pôs-se na vanguarda do carnaval. Enquanto suas inovações eram paulatinamente copiadas, ele mudou de escola, tropeçou em alguns momentos, teve sua criatividade questionada. Faltava-lhe o título, a consagração oficial. De volta a Unidos da Tijuca, finalmente o conseguiu. Com isso, leva a escola, pela primeira vez em seus quase 80 anos de existência, a uma posição de centralidade no carnaval do Rio.

Há semelhanças entre a Beija-Flor de 1976 e a Unidos Tijuca de 2010. A escola de Nilópolis era pequena e sem qualquer força capaz de fazê-la ameaçar as quatro grandes – Mangueira, Portela, Salgueiro e Império. A Tijuca da última década e meia não pode ser chamada de pequena, e esteve, em vários anos, entre as primeiras colocadas – mas era uma escola de porte médio, sem apelo popular. Estar entre as seis primeiras colocadas era sua maior aspiração. A vitória em 1936, por remeter a um período incipiente, formador dos desfiles das escolas de samba, não está no imaginário contemporâneo, nem serviu para alavancar-lhe poder e hegemonia à época.

Há diferenças, também. A Beija-Flor de 1976 tirou do Salgueiro o bicampeão Joãosinho Trinta. Ele engrandeceu o desfile, verticalizou-o, tornou-o luxuoso, feérico; Paulo Barros substituiu o luxo clássico pelo elemento humano, não só incorporando-o à alegoria, mas fazendo-o alegoria. Levou elementos de linguagem não carnavalizada ao desfile.

Nisso está a grande dúvida sobre este momento do carnaval. Joãosinho Trinta fez uma revolução dentre de cânones já estabelecidos, tornando mais fácil sua assimilação. O estilo Paulo Barros, por iconoclasta, é muito personalista. Por isso, é mais difícil de ser copiado explicitamente por outros carnavalescos?

Nos comentários que fiz para a rádio Band News FM, disse que os jurados, tradicionalmente conservadores, poderiam impedir mais uma vitória de Paulo Barros. As notas máximas dadas a quesitos que lhe eram o Calcanhar de Aquiles - Alegorias e Adereços, Enredo e Fantasia -, e as notas baixas desses mesmos quesitos dados aos carnavalescos tradicionais, mostraram que os jurados aceitaram a inovação. Não havia mais resistência; logo, o padrão novo estava oficialmente consagrado, a par da consagração popular. A campeã moral era, finalmente, a campeã oficial. Podia beber o chope e dar a volta olímpica.

O êxito de Paulo Barros não deve exacerbar a dicotomia entre o tradicional e o moderno. Ele soube juntá-los muito bem este ano, como nunca fizera. Esmerou-se na confecção das fantasias e no acabamento das alegorias carnavalescas.

Há dois anos, por ocasião da polêmica do carro do Holocausto – lembram-se? -, escrevi que ele era o novo Joãosinho Trinta do carnaval. Tacharam-me de exagerado; faltava-lhe o título, claro. Ele veio. Resta saber se seu estilo permanecerá só dele ou contaminará todas as escolas. O carnaval de 2011 promete.

SITE : SRZD

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