sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Fórmula para ser campeã

21.02.10 às 00h12 > Atualizado em 21.02.10 às 01h07.

Fórmula para ser campeã
Unidos da Tijuca inova na administração de sua imagem e finanças e caminha para ser autossustentável. Barracão terá um boteco chique para atrair turistas
POR FABIANA SOBRAL

Rio - O melhor negócio é o ‘Segredo’ ou o segredo é o melhor negócio? A Unidos da Tijuca, pelo visto, encontrou a resposta: apostou no enredo cheio de mistérios e, sem fazer alarde, veio se estruturando na última década para chegar ao tão sonhado campeonato. A escola aluga a quadra para eventos de grandes empresas, fatura com visitas guiadas de turistas ao seu barracão e investe em parcerias que cobrem até 40% do custo de seus desfiles.

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Fernando Horta, presidente da Unidos da Tijuca, planeja concluir reforma da quadra na Zona Portuária até abril para atrair mais público Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia.A modernização no gerenciamento administrativo da agremiação permitiu que todo o Carnaval idealizado por Paulo Barros se transformasse em realidade ao custo de cerca de R$ 8 milhões e, como disse o presidente Fernando Horta, deixasse poucas dívidas.

O título coroa um processo de fortalecimento da marca ‘Tijuca’ por meio de ações que trazem retorno financeiro e de imagem. “O campeonato vai ajudar a escola a crescer um pouco mais. A Tijuca não foi campeã por acaso. Ela vem trabalhando para isso”, explica Horta.

Desde 2000, conta, foi iniciado processo de mudanças na Azul e Amarelo. “Na época, eu disse que bastava de amadorismo. Não dava mais para ‘brincar’. Era ou vai ou fica”, recorda.

Hoje, a escola continua a ter colaboradores. Mas a expectativa é de que eles passem a ser apenas bons amigos do ‘Pavão’. “Estamos batalhando e ainda temos muito pela frente. Mas quero colocar a Tijuca em nível autossustentável, que não dependa de mim nem da colaboração dos amigos. Acho que daqui a mais um ano ou dois, a gente fecha esse ciclo. Quero partir somente para os patrocinadores”, aposta o presidente.

Hoje, os patrocínios da Unidos da Tijuca já respondem por cerca de 30% a 40% do custeio do valor do Carnaval. Mas ações de marketing de relacionamento, parcerias e receitas de quadra e barracão — sim, a fábrica de sonhos também rende dinheiro para a escola — se somam às subvenções e verbas a que a agremiação tem direito por estar no Grupo Especial.

A direção não para de buscar novas fontes de receita. O barracão, onde acontecem visitas guiadas ao preço individual de R$ 50, vai ganhar um boteco chique. “Vamos montar um botequim bacana. Recebemos muitos turistas durante o ano e vamos fazer eventos no barracão”, anuncia Horta. Outra medida é a reforma da quadra da Av. Francisco Bicalho, na Zona Portuária — região que o prefeito Eduardo Paes promete revitalizar. A expectativa é de que a obra acabe em abril.

“Fizemos bons eventos na quadra para grandes empresas, que pagam bem. Então, a ideia é fazer uma reformulação geral no espaço para que possa funcionar o ano todo. O Rio está recebendo muitos turistas e nós temos que aproveitar essa situação da Copa do Mundo e das Olimpíadas”, aposta Horta.

Visitas guiadas e workshops de samba e percussão para atrair turistas

Uma das responsáveis pela modernização da Tijuca é a diretora de Marketing da escola, Fabiana Amorim. Ativa, ela mantém olhos abertos para toda e qualquer chance de bom negócio ou parceria para escola. “A base do marketing é identificar as fraquezas e aí buscar as oportunidades. É o que todos procuramos fazer aqui”, comenta.

De acordo com Fabiana, foi justamente de olho nas tais oportunidades que a Tijuca desenvolveu produtos diferenciados, capazes de agradar a diferentes clientes. Hoje, por exemplo, a escola oferece três tipos de show: de pequeno, médio ou grande porte, com preços médios entre R$ 3 mil e R$ 15 mil.

Outra ação que vem rendendo dividendos é a visita guiada ao barracão. “O turista vai acompanhado de um pesquisador, que detalha e apresenta a escola. E os turistas querem essa imersão, o entendimento”, acredita. Ela explica ainda que, além das visitas guiadas, grandes grupos também podem optar pela participação em workshops de percussão e samba. Por outro precinho, claro.

Recentemente, o barracão recebeu 350 franceses do Orangina Schweppes Group, gigante na área de refrescos. Outro grupo, por exemplo, veio da Alemanha: 80 donos de concessionárias que vendem carros da Skoda Auto, uma subsidiária da Volkswagen.

O site da escola, que recebeu 17 mil acessos num só dia após o campeonato, e a revista anual (100 mil exemplares) ajudam a fortalecer a marca e, claro, estão abertos para venda de anúncios. E campanhas publicitárias com parceiros defendem a marca.

“Aqui também trabalhamos o atendimento ao cliente. É importante que todos entendam que é preciso atender bem”, observa Fabiana. Ela enfatiza, no entanto, que o marketing não tem prioridade sobre o Carnaval, o carro-chefe da casa.

O presidente Fernando Horta destaca que nada se sobrepõe ao desfile da agremiação. “Eu vendo a marca Unidos da Tijuca fazendo um bom Carnaval. Se eu não tiver um bom Carnaval, não adianta de nada ter as outras ações”, ensina ele, que vem investindo nos quesitos.

Boutique na quadra oferece lembranças de preços variados

Inaugurada na temporada do Carnaval de 2010, a boutique da quadra da Avenida Francisco Bicalho atraiu a turma que não dispensa a compra de ‘uma lembrancinha’. Simpática, a lojinha, que ainda oferece café, refrigerante e bebidinhas, atrai os olhares e acaba conquistando o desejo — e o bolso — de admiradores da escola.

“Nossa inspiração é a de clube de futebol. Samba e futebol são sinônimos de paixão”, explica a empresária Paula Valente, que explora o ponto de vendas dividindo a receita com a agremiação. “Queremos criar um identidade tijucana. E tentei ofertar boa faixa de preços para que todos possam levar a marca Tijuca”, diz Paula.

Assim, é possível comprar chaveiro por R$ 10; canecas entre R$ 18 e R$ 20; chinelos por R$ 25; camisetas entre R$ 25 e R$ 50; e até cooler (R$ 300). Ou seja, não é difícil sair da quadra, onde são exibidas as marcas de patrocinadores como Vivo, LG, TAP, e Cintra, sem algo Azul e Amarelo.

O orgulho de carregar algo com a marca do ‘Pavão’, é justamente o mote que Fernando Horta quer cultuar. “A escola tem uma marca sólida de honestidade e credibilidade. E isso é muito importante. É preciso ter transparência para os parceiros. Ninguém quer colocar dinheiro num buraco sem fundo.”, diz ele, que também se volta contra o desperdício. Vai contratar modelista para evitar excesso de gasto de tecidos em fantasias.

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